Em 1997 o povo negro brasileiro se entusiasmou com ascensão de um político negro preto, daqueles que não tem com os mais tímidos ou mais racistas tentar chamar de moreninho, café com leite. Celso Pitta é eleito prefeito da maior cidade da América Latina, São Paulo, o coração pujante da economia do Brasil. Porém Pitta recebeu uma gestão de ninguém menos que Paulo Maluf, e não preciso falar nada em relação a duvidosa forma de governo utilizada por este senhor. O minhocão que o diga. Seu padrinho político deixou-lhe um rombo nos cofres da prefeitura, esquemas em contratos fraudulentos, e todas estas irregularidades acabaram por estourar em seu governo, deixando-o com a imagem de corrupto e de mau gestor público, o que acabou com sua carreira política. Celso Pitta não conseguiu se eleger nem para deputado nas eleições seguintes e em meio a uma vida turbulenta com prisões e tudo mais, veio a falecer praticamente no ostracismo.
Uma década depois, em 2008, o povo negro mundial conquista uma vitória quase que inimaginável até então. O presidente da maior nação do mundo, a potência econômica que dita a hegemonia comportamental de boa parte do planeta é negro, descendente primeiro de Africano. Porém – mais uma vez – Barack Russen Obama recebeu o governo de um louco desvairado, alucinado pela guerra contra um terrorismo que sua própria família criou. Falencia de banco, crise econômica, guerra. Retomada do governo, nova crise. E Obama atinge alto índice de rejeição.
O que os dois protagonistas negros em cargos importantes tem em comum? Assumem o governo após gestões complicadíssimas, e acabam herdando verdadeiras bombas-relógios, previsivelmente prestes a explodir em seu período de trabalho.
Em certo momento de travessia da boiada, é necessário sacrificar um boi, atirando-o para as piranhas para que o resto da boiada continue seu trajeto com segurança. O que ocorreu com Celso Pitta em São Paulo, e o que esta acontecendo com Barack Obama na Casa Branca se assemelha muito com a historinha da boiada, Pitta foi e Obama está sendo “boi de piranha”.
Por viver em meio a política, sei que é necessário estratégias para que o grupo permaneça forte, sacrificando um cargo, perdendo espaço agora para ganhar mais tarde.
Mas será que colocar um negro em momento nitidamente complicado é pura coincidência. Será que é paranóia de ativista do movimento anti-racismo pensar que propositalmente tenta-se desmoralizar a capacidade de um negro o colocando em condições inóspitas?
Não sei, se é exagero, alucinação ou realidade. Mas tenho a convicção que sempre estaremos atentos as movimentações políticas para que lideres negros e negras sejam protagonistas de ações e trabalhos com visibilidade positiva. Vamos sempre noticiar aquelas negras e negros que fazem a política do bem, para o bem estar de toda a população brasileira, população essa que é em sua maioria negra.