sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Projeto de aniquilação do movimento negro

Em 1997 o povo negro brasileiro se entusiasmou com ascensão de um político negro preto, daqueles que não tem com os mais tímidos ou mais racistas tentar chamar de moreninho, café com leite. Celso Pitta é eleito prefeito da maior cidade da América Latina, São Paulo, o coração pujante da economia do Brasil. Porém Pitta recebeu uma gestão de ninguém menos que Paulo Maluf, e não preciso falar nada em relação a duvidosa forma de governo utilizada por este senhor. O minhocão que o diga. Seu padrinho político deixou-lhe um rombo nos cofres da prefeitura, esquemas em contratos fraudulentos, e todas estas irregularidades acabaram por estourar em seu governo, deixando-o com a imagem de corrupto e de mau gestor público, o que acabou com sua carreira política. Celso Pitta não conseguiu se eleger nem para deputado nas eleições seguintes e em meio a uma vida turbulenta com prisões e tudo mais, veio a falecer praticamente no ostracismo.

Uma década depois, em 2008, o povo negro mundial conquista uma vitória quase que inimaginável até então. O presidente da maior nação do mundo, a potência econômica que dita a hegemonia comportamental de boa parte do planeta é negro, descendente primeiro de Africano. Porém – mais uma vez – Barack Russen Obama recebeu o governo de um louco desvairado, alucinado pela guerra contra um terrorismo que sua própria família criou. Falencia de banco, crise econômica, guerra. Retomada do governo, nova crise. E Obama atinge alto índice de rejeição.

O que os dois protagonistas negros em cargos importantes tem em comum? Assumem o governo após gestões complicadíssimas, e acabam herdando verdadeiras bombas-relógios, previsivelmente prestes a explodir em seu período de trabalho.

Em certo momento de travessia da boiada, é necessário sacrificar um boi, atirando-o para as piranhas para que o resto da boiada continue seu trajeto com segurança. O que ocorreu com Celso Pitta em São Paulo, e o que esta acontecendo com Barack Obama na Casa Branca se assemelha muito com a historinha da boiada, Pitta foi e Obama está sendo “boi de piranha”.

Por viver em meio a política, sei que é necessário estratégias para que o grupo permaneça forte, sacrificando um cargo, perdendo espaço agora para ganhar mais tarde.

Mas será que colocar um negro em momento nitidamente complicado é pura coincidência. Será que é paranóia de ativista do movimento anti-racismo pensar que propositalmente tenta-se desmoralizar a capacidade de um negro o colocando em condições inóspitas?

Não sei, se é exagero, alucinação ou realidade. Mas tenho a convicção que sempre estaremos atentos as movimentações políticas para que lideres negros e negras sejam protagonistas de ações e trabalhos com visibilidade positiva. Vamos sempre noticiar aquelas negras e negros que fazem a política do bem, para o bem estar de toda a população brasileira, população essa que é em sua maioria negra.

sábado, 2 de julho de 2011

Consciência Negra? Racismo? Onde?

Desde sua mudança de linha editorial adotada em 2008, o jornal tribuna Afrobrasileira se ateve a pautar os progressos dos negros em movimento.

Foram cotas para negros em universidades, estatuto de igualdade racial, agora cotas em concursos públicos para negros, leis que protegem o patrimônio afrobrasileiro, enfim, muitos foram os avanços no Brasil, de políticas que visam reparar o erro histórico para com a população descendente de escravos, herdeiros de traços e aparências, e também de discriminação e mazelas sociais.

Entender e aceitar que o Brasil é um país racista, não é fácil para todos ao brasileiros, negros e não negros, porque fomos e somos condicionados a acreditar que vivemos em um processo democrático na esfera racial.

Nem todos entendem que “mulata” é a mula que carrega lata, e portanto este termo deve ser abolido do nosso vocabulário. Assim como relacionar o “serviço de preto” a serviço mal feito é depreciar a condição humana de ter a pele e características negras.

Graças aos nossos orixás, que deram força e discernimento aos nossos, hoje contamos com os número que revelam a discrepância existente entre os locais que negros e não negros ocupam em nossa sociedade. IBGE, IPEA, FGV, são organizações respeitadas que estão sempre nos apresentando dados onde mostram o brasileiro negro em desvantagem social, política e econômica.

Mas tudo isso que temos de subsídio para lutar por um país mais justo social e racialmente, é fruto do trabalho de nossos antepassados, não as divindades, mas os homens e mulheres que lutaram para a defesa do povo negro brasileiro. Louvemos André Rebouças, José do Patrocínio, Zumbi dos Palmares, Abdias do Nascimento (... mulher...) e tantas outras cuja história ainda não é conhecida.

É necessário portanto, que levemos a comunidade, o conhecimento sobre nossa história afrobrasileira, sobre nossos heróis e heroínas. Apenas conhecendo a luta dos que nos antecederam, nossos jovens darão valor as conquistas que temos hoje, e farão uso dos benefícios com consciência.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lançamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Terreiros

O FOAFRO - Fórum Religioso Afrobrasileiro do DF e Entorno está convidando a toda comunidade para o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiro da Câmara Federal.

A ação é uma iniciativa da deputada federal Érika Kokay PT/DF, a pedido do FOAFRO e do CEN, Coletivo das Entidades Negras.

A frente parlamentar já conta com a adesão de mais de 200 deputados federais e tem o papel de reunir parlamentares para discutir ações legislativas que promovam a defesa das comunidades tradicionais de terreiro, como os terreiros de Umbanda e Candomblé.

O evento será realizado no dia 29 de junho, a partir das 17h00min, no plenário 12 da Câmara dos Deputados Federais, que fica localizado no Congresso Nacional, em Brasília.

Várias autoridades e entidades já confirmaram presença.

A Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno prepara uma mobilização junto aos seus filiados para participação em massa no evento, para prestigiar o lançamento, e cobrar dos deputados ações em defesa dos terreiros da sua área de atuação.

O FOAFRO disponibilizará a programação da atividade posteriormente e fará a divulgação por e-mail.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia da África na Câmara Federal

O dia da África foi comemorado em Sessão Solene na Câmara dos Deputados Federais no último dia 06 de junho, no plenário Ulysses Guimarães.

A atividade contou com a presença de inúmeros embaixadores de países africanos no Brasil, além de autoridades políticas e do movimento social afobrasileiro.

A ialorixá Adna Santos, mais conhecida como mãe Baiana discursou na plenária, exaltando a herança africana presente no Brasil, com os africanos trazidos no período de escravidão. Entoou um poema aos orixás que emocionou a todos.

Michael Felix - Coordenado FOAFRO - Fórum  Religioso Afrobrasileiro do DF e Entorno
Iya Egbé Patrícia da Oxum - Representante do Coletivo de Entidades Negras
Iya Sueli de Omolú - Sacerdotiza do Ile Axé Xaxará de Prata
Professora Macia Severino - Projeto Quebrando a Cultura do Medo

sábado, 11 de junho de 2011

Poder religioso na política

Por morar na capital federal, tenho o privilégio de acesso aos canais de televisão públicos como a TV Câmara e a TV Senado.

Para alguns não é vantagem nenhuma, mas para quem trabalha em torno da política, buscando o crescimento da participação dos movimentos organizados afrobrasileiros na vida pública, é uma satisfação poder acompanhar em tempo real, os acontecimentos dos bastidores políticos, sem render-se aos pontos de vista de editores e jornalistas tendenciosos em certos meios de comunicação.

Numa manhã, assistindo aos discursos de parlamentares, fiquei assustado com a fúria em que alguns deputados e senadores defendiam a moral da família, clamando aos princípios cristãos, em face das discussões sobre o material educativo de combate a homofobia que seria distribuído pelo ministério da educação nas escolas brasileiras. Falas que clamavam a um Deus, contrapondo a condição de Estado laico que vivemos.

É claro que os parlamentares estão em seus mandatos, representando os seus eleitores, as pessoas de seus estados de origem. Mas não podemos esquecer que a constituição federal, além de garantir a liberdade de crença religiosa, veda ações promocionais por parte do Estado, em benefício de qualquer religião.

Mais estarrecedor que os depoimentos de homens públicos defendendo uma moral duvidosa, - afinal de contas corrupção, favorecimentos pessoais e familiares usando o cargo público entre outras safadesas que acometem os mesmos parlamentares, ferem qualquer moral, cristã ou não – foi o fato da presidenta da república ceder as pressões da bancada parlamentar cristã, e sem buscar saber dos técnicos educacionais do ministério da educação os objetivos pedagógicos do material, ordenou o cancelamento da distribuição do material que ficou conhecido como kit anti homofobia.

Sem entrar no mérito da qualidade do material, pois não tive acesso ao conteúdo completo, o que mais me chama a atenção, é o poder que este grupo de parlamentares cristãos exercem sobre todas as instâncias de públicas. Assuntos do cotidiano, problemas sociais, problemas de relações internacionais, tudo tem que se ouvir instancias de organização cristã como a CNBB, com peso de poder constituído, como nos tempos em que o Estado era vinculado a igreja.

Assusta, se pensarmos que não contamos com uma bancada afro-religiosa, no máximo temos parlamentares sensíveis aos anseios das comunidades de terreiro. Caso haja uma investida contra ações de Estado de promoção da cultura afrobrasileira por parte desta bancada cristã, fatalmente estaremos fadados ao fracasso.

Isso nos leva a pensar na necessidade de organizarmos nosso povo de santo, para cobrar daqueles que apoiamos em eleições uma postura em nossa defesa. Durante as campanhas eleitorais, temos que tirar fotos, fazer vídeos, e tudo que vincule os políticos a nossa causa, pois é muito comum nos deparamos com portas fechadas depois que são eleitos.

Vamos abolir a abolição

No mês que vem vamos nos deparar com inúmeras manifestações populares e escolares, de comemoração da abolição da escravidão.

A pouco me peguei em meio a uma discussão com pessoas defensoras árduas da cultura negra, sobre a comemorar ou não o 13 de maio. Tive que ouvir argumentos do tipo “se está nos livros escolares, tem que ser comemorado”, “eu aprendi assim, e vou continuar fazendo’.

Eu também, aprendi nos bancos escolares uma história totalmente deturpada, e tive a curiosidade de pesquisar especificamente sobre o tema, e descobrir que em 13 de maio de 1888, o regime escravocrata estava totalmente falido, em ruínas estruturais. Industrialização, movimento republicano, eram situações incompatíveis com o regime de escravidão humana, e como estavam em pleno crescimento, hoje é fácil entender os motivos que levaram a Isabel  ao ato de tamanha bondade, assinar a Lei Áurea, que de áurea não teve nada.

A história como nos foi e muito do que ainda é ensinada, é uma história do dominante, do vencedor, e no caso da história brasileira mais especificamente, dos brancos. Nós negros temos que buscar conhecer a nossa história de uma ótica diferente, que permita a nós, o espaço de protagonistas das ações. Precisamos conhecer José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, João Cândido, Maria Quitéria, heróis e heroínas negros e negras, que fizeram parte da história do Brasil, mas que não aparecem nos livros oficiais.

Esta data, o 13 de maio, foi imposta como comemoração pelos mesmo que a forjaram como data grandiosa de redenção de uma nação contra as atrocidades realizadas aos negros africanos e afrobrasileiros durante mais de 3 séculos. 

Vamos nos negar a comemorar o 13 de maio como dia da Abolição e sim, o dia de nossos Pretos Velhos.

Matriz ou Matrizes Africanas

É de conhecimento geral,  ou pelo menos deveria ser, que os terreiros de Umbanda e Candomblé são e foram celeiros de preservação da história da cultura africana presente no Brasil.

Ainda me surpreendo quando me deparo com afro-religiosos que desconhecem elementos básicos das nossas tradições religiosas, como a diferença entre as nações religiosas do candomblé.

O Candomblé não é uno, é múltiplo, e forma-se no Brasil, com sua multiplicidade de origens africanas. Ketu, Angola, Jeje, Ifá e Umbanda, fazem parte do grupo que hoje chamamos de religiões de matrizes africanas. E são matrizes mesmo, não matriz.

Quando falamos de África, não podemos esquecer que estamos falando de um continente, formado por centenas de grupos étnicos, diversas convicções religiosas, inúmeras línguas e dialetos.

Através da diáspora africana, muitos destes grupos foram trazidos para o Brasil, com suas múltiplas diferenças. Os principais foram os grupos iorubás, bantus, e Ewe Fon. Basicamente ao fazer esta simples análise chegamos a conclusão de que somos formados por diversas matrizes africanas.