quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lançamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Terreiros

O FOAFRO - Fórum Religioso Afrobrasileiro do DF e Entorno está convidando a toda comunidade para o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa das Comunidades Tradicionais de Terreiro da Câmara Federal.

A ação é uma iniciativa da deputada federal Érika Kokay PT/DF, a pedido do FOAFRO e do CEN, Coletivo das Entidades Negras.

A frente parlamentar já conta com a adesão de mais de 200 deputados federais e tem o papel de reunir parlamentares para discutir ações legislativas que promovam a defesa das comunidades tradicionais de terreiro, como os terreiros de Umbanda e Candomblé.

O evento será realizado no dia 29 de junho, a partir das 17h00min, no plenário 12 da Câmara dos Deputados Federais, que fica localizado no Congresso Nacional, em Brasília.

Várias autoridades e entidades já confirmaram presença.

A Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno prepara uma mobilização junto aos seus filiados para participação em massa no evento, para prestigiar o lançamento, e cobrar dos deputados ações em defesa dos terreiros da sua área de atuação.

O FOAFRO disponibilizará a programação da atividade posteriormente e fará a divulgação por e-mail.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia da África na Câmara Federal

O dia da África foi comemorado em Sessão Solene na Câmara dos Deputados Federais no último dia 06 de junho, no plenário Ulysses Guimarães.

A atividade contou com a presença de inúmeros embaixadores de países africanos no Brasil, além de autoridades políticas e do movimento social afobrasileiro.

A ialorixá Adna Santos, mais conhecida como mãe Baiana discursou na plenária, exaltando a herança africana presente no Brasil, com os africanos trazidos no período de escravidão. Entoou um poema aos orixás que emocionou a todos.

Michael Felix - Coordenado FOAFRO - Fórum  Religioso Afrobrasileiro do DF e Entorno
Iya Egbé Patrícia da Oxum - Representante do Coletivo de Entidades Negras
Iya Sueli de Omolú - Sacerdotiza do Ile Axé Xaxará de Prata
Professora Macia Severino - Projeto Quebrando a Cultura do Medo

sábado, 11 de junho de 2011

Poder religioso na política

Por morar na capital federal, tenho o privilégio de acesso aos canais de televisão públicos como a TV Câmara e a TV Senado.

Para alguns não é vantagem nenhuma, mas para quem trabalha em torno da política, buscando o crescimento da participação dos movimentos organizados afrobrasileiros na vida pública, é uma satisfação poder acompanhar em tempo real, os acontecimentos dos bastidores políticos, sem render-se aos pontos de vista de editores e jornalistas tendenciosos em certos meios de comunicação.

Numa manhã, assistindo aos discursos de parlamentares, fiquei assustado com a fúria em que alguns deputados e senadores defendiam a moral da família, clamando aos princípios cristãos, em face das discussões sobre o material educativo de combate a homofobia que seria distribuído pelo ministério da educação nas escolas brasileiras. Falas que clamavam a um Deus, contrapondo a condição de Estado laico que vivemos.

É claro que os parlamentares estão em seus mandatos, representando os seus eleitores, as pessoas de seus estados de origem. Mas não podemos esquecer que a constituição federal, além de garantir a liberdade de crença religiosa, veda ações promocionais por parte do Estado, em benefício de qualquer religião.

Mais estarrecedor que os depoimentos de homens públicos defendendo uma moral duvidosa, - afinal de contas corrupção, favorecimentos pessoais e familiares usando o cargo público entre outras safadesas que acometem os mesmos parlamentares, ferem qualquer moral, cristã ou não – foi o fato da presidenta da república ceder as pressões da bancada parlamentar cristã, e sem buscar saber dos técnicos educacionais do ministério da educação os objetivos pedagógicos do material, ordenou o cancelamento da distribuição do material que ficou conhecido como kit anti homofobia.

Sem entrar no mérito da qualidade do material, pois não tive acesso ao conteúdo completo, o que mais me chama a atenção, é o poder que este grupo de parlamentares cristãos exercem sobre todas as instâncias de públicas. Assuntos do cotidiano, problemas sociais, problemas de relações internacionais, tudo tem que se ouvir instancias de organização cristã como a CNBB, com peso de poder constituído, como nos tempos em que o Estado era vinculado a igreja.

Assusta, se pensarmos que não contamos com uma bancada afro-religiosa, no máximo temos parlamentares sensíveis aos anseios das comunidades de terreiro. Caso haja uma investida contra ações de Estado de promoção da cultura afrobrasileira por parte desta bancada cristã, fatalmente estaremos fadados ao fracasso.

Isso nos leva a pensar na necessidade de organizarmos nosso povo de santo, para cobrar daqueles que apoiamos em eleições uma postura em nossa defesa. Durante as campanhas eleitorais, temos que tirar fotos, fazer vídeos, e tudo que vincule os políticos a nossa causa, pois é muito comum nos deparamos com portas fechadas depois que são eleitos.

Vamos abolir a abolição

No mês que vem vamos nos deparar com inúmeras manifestações populares e escolares, de comemoração da abolição da escravidão.

A pouco me peguei em meio a uma discussão com pessoas defensoras árduas da cultura negra, sobre a comemorar ou não o 13 de maio. Tive que ouvir argumentos do tipo “se está nos livros escolares, tem que ser comemorado”, “eu aprendi assim, e vou continuar fazendo’.

Eu também, aprendi nos bancos escolares uma história totalmente deturpada, e tive a curiosidade de pesquisar especificamente sobre o tema, e descobrir que em 13 de maio de 1888, o regime escravocrata estava totalmente falido, em ruínas estruturais. Industrialização, movimento republicano, eram situações incompatíveis com o regime de escravidão humana, e como estavam em pleno crescimento, hoje é fácil entender os motivos que levaram a Isabel  ao ato de tamanha bondade, assinar a Lei Áurea, que de áurea não teve nada.

A história como nos foi e muito do que ainda é ensinada, é uma história do dominante, do vencedor, e no caso da história brasileira mais especificamente, dos brancos. Nós negros temos que buscar conhecer a nossa história de uma ótica diferente, que permita a nós, o espaço de protagonistas das ações. Precisamos conhecer José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, João Cândido, Maria Quitéria, heróis e heroínas negros e negras, que fizeram parte da história do Brasil, mas que não aparecem nos livros oficiais.

Esta data, o 13 de maio, foi imposta como comemoração pelos mesmo que a forjaram como data grandiosa de redenção de uma nação contra as atrocidades realizadas aos negros africanos e afrobrasileiros durante mais de 3 séculos. 

Vamos nos negar a comemorar o 13 de maio como dia da Abolição e sim, o dia de nossos Pretos Velhos.

Matriz ou Matrizes Africanas

É de conhecimento geral,  ou pelo menos deveria ser, que os terreiros de Umbanda e Candomblé são e foram celeiros de preservação da história da cultura africana presente no Brasil.

Ainda me surpreendo quando me deparo com afro-religiosos que desconhecem elementos básicos das nossas tradições religiosas, como a diferença entre as nações religiosas do candomblé.

O Candomblé não é uno, é múltiplo, e forma-se no Brasil, com sua multiplicidade de origens africanas. Ketu, Angola, Jeje, Ifá e Umbanda, fazem parte do grupo que hoje chamamos de religiões de matrizes africanas. E são matrizes mesmo, não matriz.

Quando falamos de África, não podemos esquecer que estamos falando de um continente, formado por centenas de grupos étnicos, diversas convicções religiosas, inúmeras línguas e dialetos.

Através da diáspora africana, muitos destes grupos foram trazidos para o Brasil, com suas múltiplas diferenças. Os principais foram os grupos iorubás, bantus, e Ewe Fon. Basicamente ao fazer esta simples análise chegamos a conclusão de que somos formados por diversas matrizes africanas.

Ano novo, velha políticagem

Depois de um ano político sempre vem a pergunta: o que vai mudar? No contexto federal, parece que não mudará muita coisa. O governo deve seguir a mesma linhagem anterior, afinal de contas, a presidente Dilma é a escolhida pelo eterno presidente Lula para substituí-lo.

É claro que algumas diferenças existem. Aliás, grandes diferenças. O presidente Lula conta com um fenomenal índice de aprovação durante todo o seu governo, e não foi à toa. É uma pessoa ímpar no mundo político e social, com uma carisma, um jogo de cintura invejável até mesmo pelo presidente da maior potencia econômica do mundo, Barack Obama. Ele é o cara.

Dilma por sua vez tem suas características administrativas bem definidas, uma gestora de mão cheia. Uma mão as vezes pesada demais, segundo pessoas que trabalhavam próximo a ex-ministra da Casa Civil.

Mas o que interessa para nós é o que pode mudar nas políticas de combate ao racismo, de defesa dos direitos das mulheres, dos homossexuais, de preservação da cultura e do patrimônio cultural afrobrasileiro e afro-religioso.

Em órgãos específicos, como já viram em nossa capa, mudanças consideráveis ocorreram. A ministra da SEPPIR leva para Bahia o comando as políticas de promoção da igualdade racial. Anteriormente os bahianos detinham o comando da cultura nacional, através do ministério da cultura, e de forma dirigida, na fundação palmares. Não era incomum se ouvir queixas de grupos de outros estados, de que a Bahia era um tanto quanto mais privilegiadas na execução de convênios, projetos, e recebimentos de premiações ligadas a cultura afrobrasileira.

A ministra Luiza Bairros é uma intelectual nata, respeitada no mundo acadêmico. No meio político não poderia ser diferente, seu nome quase não sofreu objeções. É claro que politicamente falando, outros nomes eram cotados para a pasta, e sua escolha desagradou a alguns, mas de nenhuma forma foi contestada sua capacidade de comandar a secretaria com status de ministério que tem a missão de promover políticas de formação de um Brasil mais justo para os afrobrasileiros, ciganos, indígenas quilombolas e todas as ditas minorias discriminadas.

Hoje a Palmares tem um comando ligado ao Rio de Janeiro, nas mãos do ex-ministro Elói Ferreira. Ele sempre teve bom diálogo com grupos de outros estados, e nos parece que deve implementar uma política mais ampla, menos voltada para auto promoção, como aconteceu na gestão anterior.

Se Dilma e seus escolhidos seguirem a linha de trabalho dos oito anos de governo Lula, pelo menos temos a certeza de que não pararemos de avançar em busca de um Estado democrático de direito, onde as diferenças raciais não serão barreira para ascensão social, e teremos o prazer de ver os grandes postos de poder, ocupados por pessoas abençoadas pelo colorido na pele, herdado de nossos ancestrais africanos.