sábado, 11 de junho de 2011

Poder religioso na política

Por morar na capital federal, tenho o privilégio de acesso aos canais de televisão públicos como a TV Câmara e a TV Senado.

Para alguns não é vantagem nenhuma, mas para quem trabalha em torno da política, buscando o crescimento da participação dos movimentos organizados afrobrasileiros na vida pública, é uma satisfação poder acompanhar em tempo real, os acontecimentos dos bastidores políticos, sem render-se aos pontos de vista de editores e jornalistas tendenciosos em certos meios de comunicação.

Numa manhã, assistindo aos discursos de parlamentares, fiquei assustado com a fúria em que alguns deputados e senadores defendiam a moral da família, clamando aos princípios cristãos, em face das discussões sobre o material educativo de combate a homofobia que seria distribuído pelo ministério da educação nas escolas brasileiras. Falas que clamavam a um Deus, contrapondo a condição de Estado laico que vivemos.

É claro que os parlamentares estão em seus mandatos, representando os seus eleitores, as pessoas de seus estados de origem. Mas não podemos esquecer que a constituição federal, além de garantir a liberdade de crença religiosa, veda ações promocionais por parte do Estado, em benefício de qualquer religião.

Mais estarrecedor que os depoimentos de homens públicos defendendo uma moral duvidosa, - afinal de contas corrupção, favorecimentos pessoais e familiares usando o cargo público entre outras safadesas que acometem os mesmos parlamentares, ferem qualquer moral, cristã ou não – foi o fato da presidenta da república ceder as pressões da bancada parlamentar cristã, e sem buscar saber dos técnicos educacionais do ministério da educação os objetivos pedagógicos do material, ordenou o cancelamento da distribuição do material que ficou conhecido como kit anti homofobia.

Sem entrar no mérito da qualidade do material, pois não tive acesso ao conteúdo completo, o que mais me chama a atenção, é o poder que este grupo de parlamentares cristãos exercem sobre todas as instâncias de públicas. Assuntos do cotidiano, problemas sociais, problemas de relações internacionais, tudo tem que se ouvir instancias de organização cristã como a CNBB, com peso de poder constituído, como nos tempos em que o Estado era vinculado a igreja.

Assusta, se pensarmos que não contamos com uma bancada afro-religiosa, no máximo temos parlamentares sensíveis aos anseios das comunidades de terreiro. Caso haja uma investida contra ações de Estado de promoção da cultura afrobrasileira por parte desta bancada cristã, fatalmente estaremos fadados ao fracasso.

Isso nos leva a pensar na necessidade de organizarmos nosso povo de santo, para cobrar daqueles que apoiamos em eleições uma postura em nossa defesa. Durante as campanhas eleitorais, temos que tirar fotos, fazer vídeos, e tudo que vincule os políticos a nossa causa, pois é muito comum nos deparamos com portas fechadas depois que são eleitos.

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